Stories
of
Dreamland


      Eram ainda cinco da manhã quando felina se acordou, ela sempre se acordava cedo mas nesse dia ela estava com um comportamento diferente, é difícil explicar, mas era como se ela sentisse que algo estava errado, talvez tenha adquirido esse dom devido as circunstâncias que a encontrei.
      Era tarde da noite e eu voltava de uma investigação, mais uma vez havia falhado, estava novamente na estaca zero, o que eu não esperava era uma emboscada, caminhava sem pressa não haviam muitas pessoas na rua, uma ou outra passava as vezes por mim, estava tão frustrada, como ele poderia ter me enganado daquele jeito, se quisesse o pegar teria que ser melhor, pensar como ele, mas acho que havia cometido um erro grave naquela noite e torcia para que ele não tivesse percebido, mas como não perceber? Ele parecia sempre um passo a frente e a alguns meses parecia que seu foco nem eram as vitimas e sim me atormentar, sabia todos os meus passos e parecia manipular tudo a minha volta a seu favor. Aumentei meus passos quando ouvi um choro de criança vindo do beco, estava escuro e eu pouco podia ver, fui me aproximando com cuidado, peguei minha arma que estava presa ao cinto e a apontei para frente, uma risada ecoou pelo beco era forte e assustadora, foi a primeira vez que encontrei com o homem da voz de trovão.
      - Você é mais bela do que eu imaginava! - Disse a voz em meio a risadas.
      - Quem esta aí? - Perguntei com a voz firme, não podia demonstrar medo mas um frio percorria minha espinha querendo me paralisar.
      A risada se tornou mais intensa e debochada.
      - Valentina Van Feu. - Falou o homem parando de rir, estava um silêncio e eu me esforçava mas não conseguia ver nada. - Não vai correr chapelzinho vermelho? Não vai chorar? Agora tão perto do lobo mal, não era o que você queria?
      Naquele minuto minha ficha caiu, era ele, sim era ele ali, parado na minha frente, se misturando a escuridão, milhares de pensamentos percorriam minha mente, em meu rosto uma expressão de surpresa e terror, eu travei, nada conseguia dizer, nada conseguia fazer, minha respiração estava mais pesada, eu podia demonstrar hesitação, mas era só o que eu conseguia demonstrar, ele ria novamente.
      - Onde está sua força? - Perguntou, e juro que me perguntava o mesmo, onde estaria? não era momento para ser fraca.
      - Solte-o! - Consegui falar ainda com a voz um pouco tremula.
      - Esta com medo pequena? - Sua voz era calma, e sedutora, semelhante ao canto de uma sereia atraindo suas vitimas, hipnotizando-as.
      - Solte-o! - Repeti com a voz mais firme.
      Eu podia sentir aquele clima me envolvendo, meu corpo me pregava peças, minha mente não parava, porque eu não conseguia agir? De repente uma luz se acendeu, e a minha frente havia um homem  alto, pele bronzeada estava de mascara, onde aparecia apenas seus olhos que pareciam verde escuro como os meus e sua boca, estava com um sorriso sarcástico e me olhava nos olhos.
      - Que olhos lindos você tem. - Disse ele sorrindo, estendendo a mão para passar em meu cabelo.
      Com um passo para trás posicionei minha arma em direção a sua cabeça. Ele parecia estar desarmado, o que não fazia sentido, e onde estava a criança? eu olhava rapidamente para os lados procurando-a, mas o foco da luz era pequeno, como se só existíssemos nós em meio aquela escuridão.
      - Que menininha assustada! - Disse ele com uma expressão de prazer em seu rosto. - Poderíamos ser grandes amigos detetive, não gosta da ideia?
      - Não me envolvo com pessoas da sua laia, me diga logo, onde esta a criança!?
      - Esta preocupada com seu menino. - Falou com o rosto sem expressão. - Bem se assim fica mais tranquila te mostrarei.
     Uma luz mais ao fundo atrás dele se acendeu, sobre uma superfície alta estava um menino que aparentava ter uns nove anos, estava desacordado e amarrado um homem também encapuzado o segurava, mais abaixo tinha uma caixa cheia de espetos fixados ao fundo apontados para cima.
      - Se quiser salvar ele com vida terá que jogar o meu jogo, com as minhas regras detetive. - Falou com o tom da voz baixo. - Agora primeiramente me de essa arma.
     Eu estava sem escolha e me sentindo cada vez pior, meu corpo tremia e eu tentava desesperadamente me manter calma, eu era nova naquilo e já havia começado com grande responsabilidade, agora uma criança dependia de mim, teria que deixar todos aqueles sentimentos que tanto me atormentavam de lado, teria que ser forte, ser firme, mas como? Eu não sabia como, tantas vezes simulei aquilo em minha mente, mas nada disso parecia adiantar agora, ele estava com a mão direita esticada em minha direção, me olhando , observando cada movimento, cada gesto, cada expressão atentamente, devagar entreguei a arma para ele, e ele sorriu, seu sorriso esbanjava simpatia, era como um lobo vestido de cordeiro, usava palavras mansas, era educado, logo se via que era de família mais rica, sem conhecer as maldades que era capaz, parecia uma pessoa normal, mas na realidade estava longe de ser, num descuido meu, fui pega por trás senti um pano em meu rosto tampando minha respiração, me debatia mas era em vão, aos poucos fui perdendo os sentidos e não vi mais nada.
      Acordei amarrada com os braços amarados jogada em uma cama de casal, o quarto era claro, sua decoração era toda em beje clarinho, com algum esforço me levantei, me sentia fraca e minha cabeça doía,  andei pelo quarto procurando algo que pudesse soltar as amarras em meus pulsos sem sucesso, escutei barulho na fechadura do quarto e em seguida a porta se abriu, era ele. Seu rosto expressava prazer, veio em minha direção e me pegou pelo braço me puxando.
      - Está na hora de brincar. - Disse sorrindo.
      - Onde estou? - Perguntei.
      - Que curiosa, gosto de pessoas curiosas, Emily era assim. - Respondeu ficando serio.
      - Quem é Emily?
      - Minha mulher, mas eu a matei.
      - Porque?
      Ele parou me encostando na parede e ficando de frente para mim olhando em meus olhos.
      - Porque ela não quis mais ser minha. - Seus olhos eram frios e sua fala era calma, o que me provocava arrepios a todo instante. - Ela parecia com você.
      - Como assim? - Perguntei, senti que poderia haver algo ali que explicasse o fato dele ter deixado as mortes de lado e passado a me perseguir.
      - Tinha cabelos negros. - Falou tocando meus cabelos e olhando-os. - Ondulados como o seu, exatamente como os seus um pouco abaixo dos ombros, pele branca como neve como a sua, olhos verdes. - Ele acariciava meu rosto de um jeito que parecia vê-la em sua frente - E o corpo, ah que corpo. - Falou se afastando e me olhando de cima a baixo.
      - Por que a matou? - Perguntei novamente, queria saber detalhes de sua personalidade e ele parecia disposto a me contar.
      Ele sorriu.
      - Ela não foi uma boa menina, você vai ser uma boa menina detetive?
      - Você é doente!
      Ele piscou lambendo os lábios e voltando a me pegar pelo braço.
      - E você é uma gracinha.
      Andamos ate o fim do corredor onde tinha uma porta que dava na sala, no sofá havia um homem, uma mulher e o menino todos amarrados, amordaçados e vendados.
      - O jogo é bem fácil detetive, tenho certeza que vai gostar, isso te lembra alguma coisa? - Perguntou com um sorriso doentio no rosto.
      - Jogo? São pessoas alí! Deixe-os ir, faça o que quiser comigo, mas deixe-os ir! - Pedi ao ver o desespero estampado no rosto de todos naquele sofá, a mulher parecia resmungar algumas orações, o homem tentava acalmar o filho que chorava baixinho.
      Ele riu me puxando para perto.
      - Que proposta tentadora detetive! mas e se eu quiser ficar com as duas opções? - Perguntou sussurrando em meu ouvido.
      Naquele momento percebi que não haveria negociação, teria que achar um jeito de salvar aquelas pessoas, mas como? Com um gesto ele pediu para um dos três homens encapuzados pegar o homem no sofá e colocar na cadeira no centro da sala amarrando-o, as costas da cadeira estava virada para a parede onde não tinha mas nada atrás, ficando de lado para a televisão e para as pessoas no sofá, de frente para nós, dois homens ficaram trás do sofá para cuidar da mulher e da criança, um ficou posicionado na porta da sala e ele ficou ao meu lado um pouco pra trás, se aproximando para falar perto de meu ouvido.
      - Funcionara assim. - Disse com a voz baixa. - Farei perguntas simples, se você acertar deixo ele ir, se errar, ele morre, você terá três chances, não as desperdice detetive, a vida dessas pessoas esta em suas mãos!
      Ele falava de uma maneira tão natural como se a vida de ninguém ali alem da dele valesse nada, tudo que eu queria era acabar com aquele pesadelo, tinha que me manter calma, porem estava com medo de falhar novamente, de não conseguir, não ser capaz de salvar aquelas pessoas.
      - Você esta tremendo detetive, sera que não vai conseguir? Está pronta?
      - Estou. - Respondi tentando manter a voz o mais firme  que consegui.
      Ele sorriu.
      - Então vamos á. - Um dos homens o entregou uma arma. - Olhe detetive, é a sua arma.
      - Desgraçado! - Falei respirando fundo.
     Ele sorriu aparentemente satisfeito com a minha reação.
      - Pergunta numero um, qual era o sobrenome de Emily?
     Olhei assustada e ele sorriu.
      - O que foi detetive? Não sabe? Pense bem tic tac tic tac...
      - Como posso saber se não a conhecia? Por favor faça outra? - Implorei.
      - Tic tac tic tac... Pense detetive. - Falou se posicionando atras de mim, segurando-me pela cintura, com a cabeça encostada em meu ombro. - Que peninha detetive o tempo acabou. - Falou disparando a arma acertando o abdômen do homem, gritos ecoaram pela sala, no sofá a mulher e a criança estavam cada vez mas desesperados, o homem gritava de dor, sufocado pela mordaça.
      - Não! - Gritei na hora. - Você disse que eu tenho três chances!
      - Sim, eu falei, só não disse que ele estaria inteiro ate a última chance. - Falou beijando meu rosto.
      - Você é um monstro! - Falei tentando o empurrar, sem sucesso nenhum.
      - Ainda há chances detetive, seja esperta. O sobrenome da Emily era Van Feu.
      - Como assim? - Perguntei sem entender nada.
      - Era sua irmã detetive.
      - Eu não tenho irmã, sou filha única!
      - Será? Nunca te contaram detetive? Parece que sei mais sobre você  do que você mesma.
      - Não estou entendendo o que você quer dizer com isso.
      - Sua mãe teve duas crianças, duas menininhas, gêmeas, você e Emily, só que Emily foi dada como morta ao nascer, mas estava viva e era minha.
      - Como assim? Isso não é verdade!
      - Preste atenção nas dicas detetive, pergunta número dois, por que Emily era minha?
      - Você, não não você é novo para tê-la sequestrado.
      - Muito bem observado, tinha 9 anos, tic tac tic tac... O tempos esta passando detetive.
      - Seu pai sequestrou minha irma?
      - Acertou detetive, estou gostando de ver, meu pai era médico, mas infelizmente ele já morreu, agora sou eu que dou continuidade ao negocio dele, está no sangue, não tem como fugir.
      - Você é médico?
      - Não exatamente> Próxima pergunta: Eu sou filho de quem?
      - Do médico da minha família?
      - Errado detetive, quer saber a próxima dica?
      - Sim.
      - Tem certeza?
      - Tenho.
      Lembre-se que a escolha foi sua. - Ele mirou a arma na cabeça do homem e atirou, depois mirou na mulher e por último no menino, matando todos com tiros certeiros na cabeça.
      - Não! Por que fez isso? - Gritei me debatendo em seus braços.
      - Você pediu a dica detetive.
      - E você não a deu, matou todos! Por quê? - Um nó se formava em minha garganta.
      - Você não se lembra de mim não é mesmo?
      Ele sorriu, me colocando contra a parede, tirando a mascara na minha frente.
      - Livrem-se dos corpos! - Falou para os seus comparsas, em seguida me levando para o cômodo do lado.
      Eu o olhava tentando lembrar de algo, mas nada me vinha a cabeça.
      - Seu pai e o meu eram muito amigos, seu pai assim como você era policial, e investigava mortes na cidade de cachoeiras, meu pai tinha uma fazenda la onde todos nos morávamos, tínhamos um negocio de família, mamãe não concordava. - Falou ele trancando a porta do quarto me deixando solta no quarto apenas com as mãos amarradas. - Então ele a matou, as mulheres nunca entendem nossas necessidades, no velório dela meu pai conheceu sua mãe, e pelo o que ele contava era muito bela como você, meu pai tentou seduzi-la estava obcecado, mas ela era muito fiel ao idiota do seu pai, então ele se tornou amigo, e um dia onde seu pai viajou, eles tiveram uma noite de amor, ela estava dopada, a patética acreditou nele, ligou chorando e pediu para vê-la, colocou a droga na sua bebida, e quando ela acordou estava em sua cama e tinha sido dele, algum tempo depois ela estava gravida, e como ela o rejeitou, ele forjou um teste que falava que as filhas que ela esperava eram dele, chantageando-a, queria que ela sofresse, quando nasceram ele pediu uma em troca do silencio dele. - Eu escutava tudo imóvel  não podia ser verdade, via desde divertimento ate uma raiva profunda passarem por aquela face. - Afastando-a e não deixando que a visse, sua mãe concordou com medo de perder a família, meu pai não suportava ver Emily, a maltratando, e me deixando com ela, confesso que no começo sentia certo "carinho" ou talvez era apenas uma atração, Emily me considerava um porto seguro no inferno, e foi assim que a peguei para mim, tudo ia bem ate ela começar a me questionar, e em uma briga a matei, meu irmão havia ido estudar fora, e com o tempo ajudava meu pai nos assassinatos, é tão bom ver o sofrimento, elas implorando para não mata-las, você se lembra de mim detetive?
      Meus olhos estavam cheios de lagrimas, de repente um mar de lembranças invadiram minha mente, o criminoso que eu tanto procurava, o que estava ali parado na minha frente, era o mesmo que havia matado minha família, aquele menino, aquele homem, eu jurei que um dia os pegaria, que eles iriam pagar por tudo, e ali estava eu de frente para um dos monstros que destruiu minha família, indefesa, não conseguia pensar direito.
      - O que foi detetive? - Disse ele se divertindo ao ver minhas lagrimas. - Você não faz ideia de como fiquei feliz ao descobrir que você estava investigando meu caso, a garotinha que escapou da morte. - Sua voz estava repleta de raiva e sarcasmo. - Você deveria ter morrido naquela noite detetive, mas dessa você não passa, mas antes porque não nos divertimos um pouco?
      - Fique longe de mim! - Falei dando passos para trás.
      - Você não tem para onde correr detetive. - Disse ele se aproximando devagar.
      Eu não tinha opção teria que pensar rápido, tentar engana-lo, não ia ser fácil mais era minha unica opção.
      - Bem se esse é meu ultimo dia de vida, quero aproveita-lo ao máximo. - Falei me aproximando dele, já diz aquele ditado, se não pode com ele junte-se a ele, na pratica não era fácil mas eu estava disposta a tentar. - O que me sugere?
     Ele sorriu surpreso, e com os olhos cheios de desejo.
      - Ideias não me faltam detetive - Falou colocando uma das mãos em minha nuca e me beijando, tentei segurar o nojo que sentia em beijar uma pessoa como ele, eu não poderia falhar dessa vez, minhas mãos já estavam sujas com o sangue daquela família, não poderia deixa-lo escapar.
      - Sem duvidas ha muita diferença entre você e Emily apesar de serem iguais, da pra sentir no seu beijo. - Disse me jogando na cama, eu tinha que pensar em algo logo para fugir daquela situação. - Acho que não vamos precisar dessa corda ou vamos?
      Balancei a cabeça para dizer que não precisaríamos  e enquanto ele desamarrava localizava onde ele largara a chave, estava em uma comoda perto da porta, do lado da cama tinha dois abajures, eu só precisava esperar o momento certo, enquanto ele beijava minha barriga e desabotoava minha calça, tentei alcançar o abajur, ele estava um pouco longe, teria apenas uma chance, tomei coragem e me impulsionei para trás, ele levantou a cabeça para olhar, e nisso acertei-o com o abajur e em seguida lhe acertando mais um chute só por garantia, pro meu espanto ele não desmaiou, mas ficou tonto e eu tinha que aproveitar aquela chance.
      - Desgraçada! - Gritou com a expressão furiosa.
      Quando fui passar ele segurou meu pé, lhe dei outro chute, estava arrependida de ter faltado algumas aulas de defesa pessoal, peguei a chave abrindo rapidamente a porta, até mesmo eu me surpreendi com minha agilidade, tentei fecha-la mas ele a segurou, corri para o andar de cima, onde encontrei um escritório e me tranquei, ele estava logo atrás de mim e batia na porta como um lobo feroz a procura de sua presa, procurei por tudo um telefone mas não achei, tentei as janelas mas estavam trancadas com chave, estava presa, encurralada. De repente um silêncio tomou conta do local, e o pânico começou a tomar conta do meu corpo, eu já era experiente o suficiente para saber que silêncio não era uma boa coisa, foi quando a vi, uma linda gata angorá preta, com um molho de chaves na boca, sentada na mesa, peguei as chaves e tentei abrir a janela que para minha surpresa abriu, observei para ver se o caminho estava livre, peguei a gata e saí me equilibrando no pouco espaço que tinha para andar até uma escadinha do lado da casa, alguns segundos depois de descer escutei tiros vindo do escritório e corri o mais rápido que pude para o mais longe possível. Eu não tinha um nome, não tinha provas, mas já não estava na estaca zero, posso dizer que foi felina que salvou minha vida aquela noite, ela sempre foi uma gata diferente das outras e cuido dela até hoje.
      O som do telefone me dispersou de meus devaneios, levantei cambaleando para atender, olhei para tela pensando quem teria a disposição de me ligar a esse horário em um feriado, era Santiago Muniz.
      - Senhor Muniz não foi o senhor que me aconselhou não trabalhar nos feriados? - Falei ao lembrar de uma de nossas conversas.
      Conheci Santiago quando investigava o sumiço e morte de varias famílias que sumiam apos receber uma proposta de emprego no interior, sem a ajuda dele não teria conseguido colocar Dimitri Torá atras das grades.
       - Usando o que digo contra mim Senhorita Van Feu? Não ha nada mais normal que ligar para uma colega as cinco e meia da manha em pleno feriado.
      Nós dois rimos.
       - E ao que devo a honra de sua ligação?
       - Vim te dar uma noticia não tão boa minha amiga. - Falou ele agora com a voz mais seria.
       - Que noticia? - Perguntei preocupada.
       - Acho que terá que desistir da ideia de ser delegada de cachoeiras.
       - De novo essa historia? já conversamos sobre isso Santiago.
       - Eu sei Valentina, mas as circunstâncias mudaram.
       - Como assim?
       - Dimitri Torá escapou essa madrugada da prisão de segurança máxima, não preciso dizer mais nada, não é?
       Senti meu corpo gelar, haviam passado seis meses desde o julgamento, desde aquele pesadelo todo.
       - Eu não posso parar minha vida por causa dele Santiago eu sei me cuidar.
       - Eu sei que sabe, mas só por precaução enviarei um pedido para delegacia de São francisco para que entre no programa de proteção a testemunha.
       - Não é necessário! - Falei indignada por não levarem minha opinião em consideração.
       - É sim e não se fala mais nisso, não vou deixar que nada aconteça a você pequena. - Disse ele desligando o telefone.
       No outro dia de manha fui ate o escritório de Santiago tentar convencê-lo de que não era preciso enviar o documento, porém ele não aceitou minhas desculpas e  enviou para a delegacia o documento solicitando proteção para mim, o documento tinha coisas importantes de minha vida, coisas que eu não gostava de lembrar, me perguntava nas mãos de quem aquilo pararia e o que essa pessoa faria, o que pensaria.
       - Fique calma Valentina, fiquei sabendo que trocaram de delegado, sei que não se dava bem com o outro, mas talvez com esse seja diferente.
       - Também espero isso meu amigo.
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      É noite, o céu está cheio de nuvens, parece que vai chover a qualquer momento, as ruas estão desertas e as luzes dos postes parecem mais fracas hoje, não é a melhor noite para se perseguir alguém, mas estou atrás um dos bandidos mais procurados de todos os tempos, se conseguir capturá-lo serei o maior delegado que o mundo já viu, malditas ruas estreitas e cheias de becos, ele escorrega de minhas mãos em cada esquina, estou muito próximo, mas droga! Ele corre demais. Não estou conseguindo segurá-lo. Depois de virar em vários becos nos deparamos com uma casa velha e abandonada, o sujeito entrou na casa, não irei hesitar, entrei a toda velocidade logo atrás dele, nesse momento ouço tantas armas engatilhando que parecia um trovão, paro imediatamente e me dou conta que estou cercado por mais pessoas que consigo contar, todas estão com no mínimo uma arma apontada para mim, o sujeito que estava perseguindo volta e aparece no meio da multidão, ele olha pra mim com um sorriso vitorioso e diz “Acabem com ele!”. Meu coração está batendo como nunca bateu antes, é com se tudo dentro de mim passasse rápido, mas na minha frente os dedos estivessem puxando os gatilhos em câmera lenta. Fechei os meus olhos... Chegou o meu fim! De repente começo a ouvir um som que vai aumentando e ficando cada vez mais insuportável, era o despertador. Abri os meus olhos e vi o teto do meu quarto, ao meu lado, sobre a cômoda o relógio marcava cinco e meia da manhã e eu nunca fiquei tão feliz por acordar.
      Depois de meia hora de luta com a minha cama consegui me levantar e abrir a porta do quarto, na mesma hora o Balto pulou em cima de mim, geralmente ele é bem tranquilo, mas pela manhã ele faz qualquer coisa para que eu o leve para passear. O Balto é o meu cão, um Husky Siberiano, após uma breve volta pelo quarteirão com ele tenho que ir a um compromisso importante. Estou sem carro no momento devido a ossos do ofício, então terei que ir de taxi. O taxista estaciona em frente a um prédio alto, pago a corrida, em seguida desço e olho para fachada do prédio que diz “Departamento de Polícia”, respiro fundo antes de entrar no prédio, vou até a recepcionista para anunciar minha chegada, ela informa que já estão a minha espera e me mostra a direção para o elevador, fiquei alguns segundos olhando para o elevador pensando se um dia entrarei novamente em um desses, nessa hora passa ao meu lado um homem, com terno marrom e gravata vermelha, ele entra no elevador e segura a porta esperando que eu entre, mas dispenso a cortesia e sigo pela escada. Foram os maiores 18 lances de escada que já subi na vida depois de muitos anos subindo e descendo escadas, mas enfim, cheguei à sala de interrogatório. Já estive em uma sala dessas antes, mas ultimamente tenho sentado sempre do outro lado da mesa. Entro na sala e vejo 3 homens na minha frente, um deles, o da esquerda, comenta:
      – Chegou em cima da hora, hein? – Sento-me na cadeira do outro lado da mesa em frente a eles e respondo:
      – Cheguei na hora! Detesto deixar as pessoas esperando, mas também detesto esperar.
      – Os três sorriem. Então o do meio começa a falar:
      – Sr. Adam, essa é sua última entrevista e no final já saberá o resultado do processo. Espero que compreenda o rigor, já que talvez ocupe um cargo de imensa responsabilidade.
      – Sem problema!
      – Já deve saber que toda sua vida foi investigada, desde a sua infância, como se comportava na escola, sua família, seus amigos, seus hábitos e vícios, durante os 3 meses nesse processo para se tornar o novo delegado de São Francisco revistamos sua vida inteira e hoje só queremos esclarecer alguns pontos antes de tomarmos nossa decisão. Conte-me porque decidiu ser policial!
      – Entendo que tudo isso é necessário e não me importo se me investigarem. O que me fez querer ser policial? Não gosto de falar sobre isso, é triste. Digamos que o crime tirou tudo que eu tinha, agora quero defender a lei e acabar com o crime para que não tire mais nada de ninguém.
      – Sabemos sobre sua tia, como ela foi morta na sua frente...
      – Como eu disse, não gosto de falar sobre isso.
      – Mas e se for necessário? Se um dia algo lhe lembrar do seu passado, como irá reagir? Você seria capaz de agir com a mente e não com a emoção?
      – Não me lembro dos meus pais, eles morreram eu acho, a lembrança mais antiga que tenho é com minha tia, morávamos em um bairro perigoso, um dia estava na varanda sentado no colo dela e um homem começou a assaltar uma moça no meio da rua, bem na nossa frente, minha tia não conseguiu ver a moça chorando e não fazer nada, colocou-me no chão, se levantou e falou para o homem: “Rapaz! Deixe a moça em paz, não faça isso com ela! Jesus lhe ama.” Nunca vou me esquecer do jeito que ela repreendia as pessoas falando de Deus, ela tinha um coração de mãe... Também nunca vou esquecer o que aquele homem fez, ele apontou a arma na nossa direção, eu fiquei com medo e fechei meus olhos bem apertados, foi quando ouvi o tiro e a minha tia caindo na cadeira atrás de mim, continuei de olhos fechados por um tempo, não sabia o que fazer, então me virei para minha tia e abri meus olhos, ela já estava morta, chorei muito, depois que meus olhos secaram eu decidi que seria policial e que iria prender todas as pessoas ruins do mundo. Não importa se algo lembrar o meu passado, ele sempre será do mesmo jeito e isso só me faz querer ainda mais ser quem eu sou, um homem da lei, um homem disposto a dar a vida para que os criminosos paguem pelos seus crimes, é isso que vou fazer até o último dia da minha vida, seja como policial investigativo ou como delegado.
      – Lamentamos pelo que viveu, mas precisávamos saber como lidaria se um dia fosse obrigado a reviver isso se lembrando do passado. Tenho em minhas mãos uma ficha com alguns detalhes sobre você, irei ler o resultado resumido da investigação:
Nome: Adam Scott;
Idade: 28 Anos;
Peso: 89 Quilos;
Altura: 1 metro e 80 centímetros;
Tipo sanguíneo: O Positivo...
      – Tem certeza que isso é só um resumo? – Eles sorriem e o homem do meio continua:       – Homem branco, magro, sem barba, feio, cabelo grande e mal cortado, vive vestido de preto e gosta de ser o engraçadinho. – Dessa vez fui eu que sorri e disse que não precisava ser tão sincero assim, o clima na sala ficou agradável e o Sr. do meio continuou falando sobre mim, como foi minha vida e alguns casos depois de policial, respondi mais algumas perguntas sobre o que faria em algumas situações que precisavam de decisões rápidas e inteligentes, acho que me sai bem, depois de um longo tempo de conversa chegamos ao fim da entrevista, hora de saber o resultado e foi quando aquele senhor do meio olhou bem pra mim e disse:
      – Adam, sua vida não será tão fácil a partir de hoje, se achava sua vida difícil como Polícia Investigativo nem imagina como será pior agora. Deve honrar a justiça acima de tudo, seja o melhor delegado que essa cidade já viu! Meus parabéns!
      Senti vontade de pular e comemorar, mas me contentei apenas com um sorriso e um aperto de mão, me informaram que começarei no novo cargo já na próxima semana, então só me resta uma coisa a fazer: Aproveitar bem o fim de semana!. Saí da sala e segui até o fim do corredor onde cheguei nos elevadores, eu sou o novo delegado, não posso ter medo de elevadores. Preciso superar isso e será agora! Então chamo o elevador. Enquanto espero, o mesmo homem de terno marrom para do meu lado e pergunta:
      – Superou o medo? – Não gostei do sorrisinho irônico em seu rosto, mas respondo por educação. – Uma hora temos que superar, não é mesmo?
      O elevador chega, entramos e ele começa a descer, não consigo explicar como é a sensação de estar dentro de um desses novamente depois do que aconteceu, não consigo me mexer, quando de repente o elevador para e as luzes piscam, o homem ao meu lado não se segura e começa a rir enquanto fala “Que sorte em cara?”. Dou um soco nele! As risadas param na hora e eu me sinto muito melhor. O elevador voltou a funcionar, chegando até o térreo, vou até a recepcionista para informar sobre o ocorrido:
      – Oi, tudo bem?
      – Tudo! Em que posso ajudar?
      – É que tem um homem desmaiado no elevador, sabe como é né? Medo de elevador faz isso com as pessoas.
      – Obrigada por avisar! Mandarei alguém lá agora mesmo.
      – Por nada, tenha um bom dia.
      – O Sr. também.
      Saio pelas mesmas portas de vidro que entrei, mas agora sou o novo delegado de São Francisco! Paro na frente do prédio, coloco minhas mãos nos bolsos, respiro fundo e saio caminhando.
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"Heróis são simples seres humanos que aceitaram suas condições, viveram todas as circunstancias da vida, caíram e se levantaram, sem medo de ser feliz." - Desconhecido